Na tarde em que o calendário insiste em chamar de Natal — data associada à fraternidade, à empatia e à partilha — a realidade tratou de expor, de forma brutal, uma miséria que vai muito além da falta de renda. No centro de Bom Sucesso, no norte do Paraná, um morador foi violentamente agredido dentro de casa por um criminoso que não buscava luxo, dinheiro ou joias, mas um botijão de gás. E, para levá-lo, quase tirou a vida de outro ser humano.
O ataque ocorreu por volta das 16h de quinta-feira (25), na rua São Paulo. A vítima estava na cozinha quando ouviu barulhos no quintal. Ao sair para verificar, encontrou um desconhecido em surto de violência, aos gritos, exigindo o botijão. Não houve negociação, não houve recuo. Houve confronto. O morador tentou impedir o furto e entrou em luta corporal com o invasor.
Por alguns instantes, conseguiu se desvencilhar. Mas a trégua foi ilusória. O criminoso contornou o quintal, retornou sorrateiramente e atacou pelas costas, desferindo um golpe certeiro na cabeça da vítima com um pedaço de madeira. O resultado foi um corte profundo, oito pontos na cabeça e diversas escoriações pelo corpo — marcas físicas de uma agressão que também deixou feridas invisíveis.
Mesmo ensanguentado, o morador ainda teve forças para pedir socorro aos vizinhos e foi levado ao Hospital Municipal, onde recebeu atendimento médico. O agressor, por sua vez, fugiu a pé, carregando o botijão de gás nas costas, como se o peso maior não fosse o crime, mas a própria ausência de qualquer freio moral.
A Polícia Militar foi acionada e registrou a ocorrência. Segundo a descrição, o suspeito é um homem de estatura mediana, com cavanhaque e tatuagem no antebraço. O patrulhamento na região será intensificado, mas, como tantas outras vezes, a sensação é de que a resposta vem sempre depois do sangue derramado.
Falência material e espiritual
A verdade é incômoda: a pobreza que assola o país não é apenas econômica. Há uma pobreza mais profunda, corrosiva, que se manifesta na perda de valores, na indiferença à dor do outro, na banalização da violência.
Roubar um botijão de gás já é o retrato da desigualdade social; espancar alguém dentro da própria casa, num feriado simbólico como o Natal, revela algo ainda mais grave — uma falência espiritual, desprovida de empatia, de limites e de humanidade.
Quando a violência se torna instrumento cotidiano de sobrevivência, a sociedade inteira fracassa. E não há data festiva capaz de disfarçar isso.
