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Foto: Marcelino / Reuters |
A demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ocorreu depois de quase um mês de clima tenso entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, situação que se agravou publicamente nos últimos dias.
De um lado, o ministro insistia em cumprir o isolamento social que determina a Organização Mundial da Saúde (OMS) e demais autoridades de saúde no mundo inteiro para conter o avanço do coronavírus. De outro, Jair Bolsonaro defende o isolamento vertical, isto é, apenas das pessoas dos grupos de risco.
A demissão foi anunciada por Mandetta em seu perfil no Twitter, onde ele agradece a portunidade de gerenciar o SUS e à toda equipe que atuou com ele no período em que comandou o MS. O ex-ministro se reuniu com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, na tarde desta quinta-feira, 16, onde ouviu sua demissão do próprio presidente. Após a saída, ele fez as publicações nas redes sociais.
A gota d’água da crise entre o agora ex-ministro e o presidente, que já havia ameaçado Mandetta de demissão em várias ocasiões, se deu no último domingo, 12, quando Mandetta concedeu entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, emissora com a qual Bolsonaro declaradamente não se relaciona.
Na entrevista, entre outras alfinetadas ao presidente, Mandetta declarou que, sobre o isolamento social, “o povo não sabia se ouvia o ministro da saúde ou o Presidente da República”, e cobrou que o governo tivesse uma “fala única” nesse sentido.
Com a entrevista, Mandetta perdeu o apoio que ainda tinha da cúpula militar que cerca o presidente Jair Bolsonaro, e que há cerca de dez dias havia feito uma reunião de conciliação para que Bolsonaro mantivesse Mandetta no cargo, após o presidente fazer um passeio pelo comércio de Brasília no dia 29 de março e fazer até selfie com a população.
A ação foi notícia no mundo inteiro Na ocasião, fontes afirmaram que, em dado momento da reunião, Mandetta teria perguntado a Bolsonaro e outros ministros presentes se eles estavam preparados para ver o Exército carregando corpos pelas ruas do Brasil, como estava acontecendo na Itália, o país europeu mais devastado pelo novo coronavírus.
Bolsonaro teria, nessa hora, se retirado e “dado um tempo da reunião. Porém, ao retornar, o clima continuou tenso e ele chegou a ameaçar presencialmente Mandetta de demissão, e ouviu como resposta do ministro que sim, Bolsonaro poderia demiti-lo, mas que ele mesmo não pediria demissão, como não o fez, enquanto outras ameaças de Bolsonaro se seguiram pela imprensa.
Desgaste – O desgaste entre o presidente e o ministro Mandetta já vinha desde o início da política de isolamento no Brasil, quando o presidente Jair Bolsonaro já havia saído num domingo à tarde cumprimentando pessoas e falando com apoiadores, apertando a mão de pessoas, descumprindo a orientação de distanciamento, recomendado a ele após 20 pessoas de sua comitiva aos Estados Unidos terem sido diagnosticadas com a Covid-19, incluindo seu secretário de comunicação, ministros e empresários próximos a Bolsonaro.
Nessa fase Mandetta ainda tentou contemporizar – evitando criticar Bolsonaro diretamente – mas sempre mantendo a orientação do chamado isolamento social horizontal definido por sua equipe, enquanto o presidente ia na outra direção.
Para eles a saída do ministro pode gerar uma reação de outros Poderes, como Legislativo e Judiciário, na tentativa de frear ações do Palácio do Planalto que coloquem a população em risco em meio ao combate ao novo coronavírus.
Fonte: Roma News