
Bruno Pereira já foi coordenador da Funai; Dom Phillips é colaborador do jornal The Guardian e mora em Salvador. PF investiga o caso.
O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, estão desaparecidos na Amazônia há mais de 48 horas, segundo o divulgado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
Em nota divulgada nesta segunda-feira (6), a entidade afirma que eles desapareceram no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte.
Segundo a Univaja, Bruno recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores.
Trajeto e desaparecimento
Bruno e Phillips foram vistos pela última vez quando chegaram na comunidade São Rafael por volta das 6h deste domingo (5) e onde conversaram com a esposa do líder comunitário apelidado de Churrasco. De lá, eles partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas, mas não chegaram ao destino.
“Os dois se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da FUNAI no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas”, diz o texto da Univaja.
Eles viajavam com uma embarcação nova, de 40 cavalos, e 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem.
Quem são os desaparecidos
Phillips e Bruno fazem expedições juntos na região desde 2018, de acordo com o Guardian.
Segundo a nota da Univaja, Bruno é “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.
Já Phillips mora em Salvador e faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos para veículos como Washington Post, New York Times e Financial Times, além do Guardian. Ele também está trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.
Em uma rede social, Jonathan Watts, editor do Guardian, disse que o jornal está preocupado e procurando informações sobre o colaborador.
“O Guardian está muito preocupado e procurando urgentemente informações sobre o paradeiro de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, escreveu Watts.
De acordo com o divulgado pela Univaja, a equipe vinha recebendo ameaças em campo, sem especificar quais e como.
“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International.”
Em nota divulgada nesta terça-feira (7), a família do servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) falou sobre a angústia na espera de notícias e diz ter esperança de que tenha sido acidente.
“Já são 48 horas de angústia à espera de notícias. Tivemos poucas informações sobre a localização deles, o que tem aumentado este sentimento. Mas também temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro. Mantemos orações e agradecemos o apoio de familiares e amigos. Contudo, apelamos às autoridades locais, estaduais e nacionais que deem prioridade e urgência na busca pelos desaparecidos”.
A nota é assinada pela companheira de Bruno e dois irmãos e foi divulgada através de colegas da família no Pará.
“Pedimos às autoridades rapidez, seriedade e todos os recursos possíveis para essa busca. Cada minuto conta, cada trecho de rio e de mata ainda não percorrido pode ser aquele em que eles aguardam por resgate” .
Nesta terça, as buscas são feitas pela Marinha do Brasil com o apoio de um helicóptero, duas embarcações e uma moto aquática. Os desaparecimentos do jornalista e de Bruno Pereira estão sendo investigados pela Polícia Federal do Amazonas, que não deu detalhes sobre as apurações.
“É fundamental que buscas especializadas sejam realizadas, por via aérea, fluvial e por terra com todos os recursos humanos e materiais que a situação exige. A segurança dos indígenas e equipes de busca também precisa ser garantida”, afirmam os familiares na nota.
Por G1.